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"As Cidades Invisíveis", de Italo Calvino


As Cidades Invisíveis

Italo Calvino [*]

Título original: Le città invisibili

Edição: 1990

Editora: Editorial Teorema

P.V.P.: Aprox. 10€

Páginas: 166 Li este livro durante a viagem de comboio entre Faro e Guimarães. Para dizer a verdade não estava muito motivado a lê-lo, mas conforme fui avançando páginas apercebi-me que já estava a fazer duas viagens ao mesmo tempo: a do comboio e a do livro, proporcionada pela escrita de Italo Calvino. A narrativa do autor prende-nos a um conjunto de descrições de cidades imaginárias (que ele apelida de invisíveis), mas na realidade são bem visíveis no nosso subconsciente. Para aguçar ainda mais o vosso apetite de leitores, deixo-vos a ligação do texto de Patrícia Canha, “O Senhor Calvino e as Cidades Invisíveis”, e transcrevo um dos 55 capítulos: As cidades e a memória. 5.

“Em Maurília, o viajante é convidado a visitar a cidade e ao mesmo tempo a observar certos velhos postais ilustrados que a representam como era dantes: a mesma idêntica praça com uma galinha no lugar da estação dos autocarros, o coreto da música no lugar do viaduto, duas meninas de sombrinha branca no lugar da fábrica de explosivos. Para não desiludir os habitantes o viajante tem de gabar a cidade nos postais e preferi-la à presente, com o cuidado porém de conter o seu desgosto pelas mudanças dentro de regras bem precisas: reconhecendo que a magnificiência e prosperidade de Maurília transformada em metrópole, se comparadas com a velha Maurília provinciana, não compensam uma certa graça perdida, a qual contudo só poderá ser gozada agora nos velhos postais, enquanto outrora, com a Maurília provinciana debaixo de olhos, de gracioso não se via mesmo nada, e igualmente não se veria hoje se Maurília houvesse permanecido tal e qual, e que no entanto a metrópole tem mais esta atracção, que através do que se tornou se pode repensar com nostalgia no que era. E nem pensem em dizer-lhes que por vezes se sucedem cidades diferentes sobre o mesmo chão e sob o mesmo nome, nascem e morrem sem se terem conhecido, incomunicáveis entre si. Às vezes até os nomes dos habitantes permanecem iguais, e o sotaque das vozes, e até mesmo os delineamentos dos rostos; mas os deuses que habitam debaixo dos nomes e sobre os locais partiram sem dizer nada a ninguém e no seu lugar aninharam-se deuses estranhos. É inútil interrogarmo-nos se estes são melhores ou piores que os antigos, dado que não existe entre eles nenhuma relação, tal como os velhos postais não representam Maurília como era, mas sim outra cidade que por acaso se chamava Maurília como esta.

CALVINO, Italo (1990), “As Cidades Invisíveis”, Colecção Estórias, Editorial Teorema, pp. 33-34.


[*] Ítalo Calvino nasceu em Santiago de las Vegas (Cuba), a 15 de Outubro de 1923. Faleceu em Siena, a 19 de Setembro de 1985. Concluiu a licenciatura em Letras. É um dos maiores escritores italianos contemporâneos.



Boas leituras geográficas 📚



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Rogério Madeira

Geógrafo

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