Os grandes prédios fecham-nos a vista à chave. Fernando Pessoa
Na década de 1970, do século passado, Leonardo Benevolo na sua obra “As origens da urbanística moderna” (Editorial Presença, 1981), afirmava em jeito de advertência que Ainda hoje a técnica urbanística se encontra normalmente atrasada relativamente aos acontecimentos que deveria controlar e conserva o carácter de um remédio aplicado à posteriori. Mais tarde, notando os novos espaços suburbanos das cidades, Baudrillard observava que normalmente (desde os anos 1960) os hipermercados PRECEDEM as urbanizações. Criam a necessidade, sendo a oportunidade. Tudo isto será verdade no caso português pós-25 de Abril. Mas não chega. Recorramos a Nuno Portas quando este atesta que os problemas estão em começarmos pelas casas e só depois pensarmos na rua, se for possível, claro. Isto verificou-se no país de uma ponta a outra, nas casas e construções clandestinas, nos bairros sociais e nas novas (sub)urbanizações. Irei mais longe ao afirmar que começamos pelas casas e logo pelo…telhado.
Observe-se o caso de Braga. A imagem situa-nos na zona da Feira Nova ou Braga Parque, como é (re)conhecida. Trata-se, no entanto, de uma antiga área de quintas anexadas à cidade, entre as quais a Quinta da Armada. Antiga não será o termo. Esta história de (sub)urbanização dentro da própria cidade (estamos a não mais de 15 min do centro histórico a pé), terá cerca de 15 anos.
Três notas apenas:
Já aqui o referi. Esta área não resulta de qualquer plano sustentado, ou não, de urbanização, basta atentarmos nas sucessivas mudanças e atentados ao PDM. Nada de definição de células habitacionais, hierarquia de vias de comunicação, espaço público, espaços verdes, praças, centralidades ou mesmo de passeios ou bermas. Os prédios foram simplesmente aparecendo sem ordem aparente, sem relação de espaços e muitas vezes oprimindo os prédios vizinhos, privando-os de luz solar e privacidade. Existem casos de pessoas enganadas relativamente à construção de áreas verdes em redor das suas habitações ou a não existência de prédios na proximidade da sua habitação.
No entanto continua-se a construir. Lei da oferta e procura? Não é verdade, caros economistas. Neste particular não é a procura que suscita a oferta, mas a oferta que condiciona (ou tenta condicionar) a procura. Constrói-se. Sei-o porque, por lá vivi (na área) e trabalhei, os imóveis, nomeadamente as torres de 15 andares da imagem, nunca tiveram uma taxa de ocupação significativa, sendo que a população residente é extremamente flutuante (nas torres). Desta ocupação saliente-se o aluguer informal e a ausência de recibos. Acresce referir a “IMAGEM” negativa da área construída à “luz” de estaleiros permanentes, segregação social e humana, degradação dos espaços e dos imóveis, entre outros. Refira-se, aliás, que alguns dos prédios de construção recente apresentam problemas de canalização, ruído, humidade e infiltrações de água, sendo constantes as inundações nas garagens mesmo ocorrendo pouca precipitação (construções em leito de cheia de ribeiros ou através da mudança de curso destes), etc. Não existe o SENTIDO DE LUGAR.
Constrói-se ainda assim mais, como se pode verificar na imagem. Segunda nota. Por obra não sabemos de quem, a última torre (a quarta na imagem) está em construção há mais de …QUATRO ANOS, e a primeira praticamente três anos de empreitada e estaleiro, ambas sem fim à vistaçta que condiciona (ou tenta) a procurarolar e conserva o caracter. Mais 15 pisos. Procura? Deve ser.
Por fim, o quadro completa-se com o Outlet já construído (não se vê bem na imagem) numa grande área atrás das referidas torres. Um exemplo de planeamento. Só depois de finalizado se reparou na ausência, quase total, de acessos, o único existente será a Avenida Antero de Quental. Numa área congestionada até ao pesadelo, foi, sem sombra de dúvida uma boa opção. Vai resolver-se, é claro, não era esse o objectivo???
Como se diz na minha terra: o último a sair que apague a luz e feche a porta.
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