Perdoem-me a qualidade da imagem, mas como a minha impressora está de baixa, tive que recorrer à ilustríssima Internet. De qualquer forma, o exemplar que possuo (também das edições 70) é de 1995 e tem uma capa verde, com uma imagem de duas senhoras dentro de um caixote (uma com ar desafiante outra nem por isso) prontas a ser colocadas, parece-me, dentro de um camião, e pouco mais se vê, exceptuando alguma publicidade. O destaque que esta obra merece não pode, nem deve ser, encolhido e acompanhado por comentários à priori. Dessa forma, tenta-se salvá-la (a obra) de precipitações e induções em 2º ou 3º grau, enlameadas no famoso “resumo”. Será por isso dividida em várias postas até ao final do mês, com relevo, apenas, para o que foi escrito pela pena do grande pensador e sociólogo Jean Baudrillard. Logo no inicio “A liturgia formal do objecto”,o sr. Baudrillard diz ao que vem:
À nossa volta, existe hoje uma espécie de evidência fantástica do consumo e da abundância, criada pela multiplicação dos objectos, dos serviços, dos bens materiais, originando como que uma categoria de mutação fundamental na ecologia da espécie humana. Para falar com propriedade, os homens da opulência não se encontram rodeados, como sempre acontecera por outros homens, mas mais por objectos.
O conjunto das suas relações sociais já não é tanto o laço com os seus semelhantes quanto, no plano estatístico segundo uma curva ascendente, a recepção e a manipulação de bens e de mensagens, desde a organização doméstica muito complexa e com as suas dezenas de escravos técnicos, até ao “mobiliário urbano”e toda a maquinaria material das comunicações e das actividades profissionais, até ao espectáculo permanente da celebração do objecto na publicidade e as centenas de mensagens diárias emitidas pelos “mass média”; desde o formigueiro mais reduzido de quinquilharias vagamente obsessivas até aos psicodramas simbólicos alimentados pelos objectos nocturnos, que vêm invadir-nos nos próprios sonhos. Os conceitos de “ambiente” e de “ambiência” só se divulgaram a partir do momento em que, no fundo, começámos a viver menos na proximidade dos outros homens, na sua presença e no seu discurso; e mais sob o olhar mudo de objectos obedientes e alucinantes que nos repetem sempre o mesmo discurso – isto é, o do nosso poder medusado, da nossa abundância virtual, da ausência mútua de uns aos outros. Como a criança-lobo se torna lobo à força de com eles viver, também nós, pouco a pouco, nos tornamos funcionais. Vivemos o tempo dos objectos(…).
Chega por hoje. Fica o repto da leitura e de muitas leituras mais. E já agora o prazer de pensar. E uma questão: imaginam em que ano o livro foi escrito (ou a década) já agora?
A graçola está aí…
Boas leituras geográficas.
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