Para começar digo que é mais fácil responder à pergunta “O que é Geografia?”, e apoiando-me na definição do dicionário: “Geografia é o estudo dos fenómenos físicos, biológicos e humanos localizados na superfície terrestre.”
De acordo com esta definição diria que o que não é geografia encontra-se “fora” da superfície terrestre, ou seja, os astros, as estrelas, etc., descaindo para o que é Astronomia. No entanto, tudo isto também tem uma dimensão espacial e natural, que são preocupações fundamentais da geografia desde a sua origem.
Logo, será também Geografia?
Um ano atrás assisti a um congresso com o tema: “Para que serve a Arquitectura?”. Durante dois dias ouvi respostas variadas: umas lógicas, outras contraditórias, umas imediatas, outras pensadas e, em muitos casos, só podemos responder após compilarmos todas elas.
Para responder para que serve, foi necessário perceber o que é Arquitectura.
O mesmo acontece aqui, para sabermos o que não é, temos de saber o que é.
E será que sabemos o que é?
Eu diria que não!
A resposta usual é: “Geografia são os continentes e oceanos, os países e regiões, as cidades e vilas, os rios e ribeiros.”
Não está errado, mas será só isso?
Não quero afirmar que tudo é Geografia porque, o que diria o Economista? Defenderia com certeza que tudo na vida é Economia. Afinal o que não é Economia? O que somos com e sem Economia?
Muito do que acontece no mundo ultrapassa-nos, é transcendente e não há forma de nenhum Geógrafo saber expressar-se ou saber o que se passou, logo, tudo isso será Geografia? Há coisas fora de alcance, livres da interpretação do Geógrafo.
A fé e os sentimentos serão Geografia? Será a Geografia algo inexplicável?
O Vidal falou no sentido de lugar, algo que nos remete para a Geografia, mas será a Geografia capaz de perceber o porquê desse sentido/pertença de lugar sem se auxiliar à dimensão espacial?
Há pessoas que vivem anos e anos numa terra, com centenas de “estórias” e vivências e não têm qualquer sentido de pertença de lugar, porque quando morrerem desejam ser enterrados ao lado da mãe ou do esposo numa terra longínqua.
O mais importante para eles é afectividade com pessoas e não com lugares (remete-nos para a Geografia Humana, mas não propriamente).
Tenho um tio emigrado na França desde os 15 anos, está na idade da reforma e diz ele que quer ser enterrado em Marrocos.
Que sentido faz uma coisa destas?
Que vivências e estórias tem ele de Marrocos? Nenhumas!
Apenas se encontra lá sepultada a sua falecida esposa.
Talvez o meu tio veja nela uma sobreposição de signos, vivências e de “estórias” comuns entre eles, mas num sentido mais profundo, como explica a Geografia uma coisa destas?
A Geografia consegue interpretar sentimentos, opções ou atitudes?
Talvez consiga interpretar as suas consequências de acordo com a análise da sua origem… mas de que forma o Geógrafo consegue “sentir o que os outros sentem”?
Para mim o que não é Geografia será sempre aquilo que eu quero que não seja Geografia. Os meus sentimentos, pensamentos e os meus sonhos podem tornar-se Geografia, mas também podem não o ser, se eu quiser, se eu não os partilhar…
Respiro, vivo e sinto Geografia, mas também respiro, vivo e sinto o que nunca chegará a ser Geografia...
Sustenta o sustentável 🍀
Rogério
Geógrafo
Comments