Título: “O Velho Expresso da Patagónia”
Autor: Paul Theroux
Tradução: Nuno Guerreiro Josue
Edição: Quetzal (2009)
Mas esta moral explicada por geografia “transpontina” era mais complexa do que parecia à primeira vista. Se os texanos tinham o melhor de ambos os mundos, decretando que os antros de perdição permanecessem do lado mexicano da Ponte Internacional – com o rio correndo, como o progresso errático de uma discussão difícil, entre a virtude e o vício –, os mexicanos tiveram o bom senso e o tacto de manter Boys’ Town camuflada por decrepitude, no outro lado dos carris; outro exemplo da geografia da moralidade. Divisões por todo o lado: ninguém gosta de viver ao lado de um bordel. Ainda assim, ambas as cidades existiam por causa de Boys’ Town. Sem a prostituição e o crime organizado, Nuevo Laredo não teria fundos municipais suficientes para plantar gerânios na praça em volta da estátua do seu gesticulante patriota, muito menos para se anunciar como bazar de artigos de vime e de folclore de tocadores de guitarra – não que alguém alguma vez tivesse ido a Nuevo Laredo para comprar cestos. E Laredo precisava do vício da cidade irmã para encher as suas igrejas. Laredo tinha o aeroporto e as igrejas, Nuevo Laredo, os bordéis e as fábricas de cestos. Era como se cada nacionalidade tivesse gravitado para a sua área especial de competência. Era economicamente sensato; seguia à letra a teoria das vantagens comparativas explicada pelo eminente economista David Ricardo (…)
Mexicanos entram nos estados Unidos porque há trabalho para eles. Fazem-no ilegalmente – é praticamente impossível que um Mexicano pobre entre legalmente se a sua intenção é procurar trabalho. Quando são apanhados, são atirados para a prisão, cumprem uma pena curta e depois são deportados. Ao fim de poucos dias, regressam aos estados Unidos e às explorações agrícolas onde conseguem sempre encontrar trabalho mal pago. A solução era simples: se fosse aprovada uma lei que obrigasse as explorações agrícolas a empregarem apenas homens com vistos e autorizações de trabalho, acabava-se o problema. Essa lei não existe. O lobby das explorações agrícolas assegurou que assim fosse, pois, se não houvesse Mexicanos para explorar, como fariam estes asnos negreiros as suas colheitas?
(pp. 71-72)
Será interessante certificar que Paul Theroux viaja e escreve durante o ano de 1978. Datando a edição original de 1979. O que mudou?
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