De São Romão ao Parque Prof. José Hermano Saraiva
Desde que comecei a Viver Leiria, das primeiras coisas que fiz foi explorar a cidade e percorrer o Percurso Polis, como autêntico flâneur.
Decidi escrever sobre o Polis, pois conheci o antes e estava a ser surpreendido com o depois. Fiz alguma pesquisa e li artigos de opinião contra o novo piso betuminoso, sobre o abate de árvores para se construir pontes, então decidi dar a minha opinião, tentando falar do que vi e não me referindo ao passado. No final vou tecer algumas considerações em jeito de sugestão, como novo morador a Viver Leiria.
O projeto
No âmbito do Viver Leiria ProgramaPolis foi prevista a intervenção no sistema do Rio Lis, com a criação de percurso ciclopedonal e requalificação ambiental dos espaços verdes e construídos da cidade, de São Romão até montante de Arrabalde da Ponte, local onde foram implementados o Jardim Almuinha Grande e o Centro Nacional de Lançamentos.
Viver Leiria ProgramaPolis | Intervenção do Programa Polis no Sistema Rio. Fonte: Município de Leiria (adaptado)
A 1.ª fase do projeto para a requalificação deste percurso ciclopedonal, incidiu no troço de São Romão ao Jardim da Vala Real (atual Parque Prof. José Hermano Saraiva) e, segundo a autarquia, custou 850 mil euros, um investimento que permitiu dotar o percurso de melhores condições para a prática de caminhadas, atletismo, ciclismo e outros modos de mobilidade.
O percurso
No troço entre São Romão e o Parque Prof. José Hermano Saraiva, é um percurso linear ciclopedonal com uma extensão de 1870 m, com piso betuminoso, boa iluminação, mobiliário urbano renovado e sinalética apropriada em ambos os sentidos. Foram criadas duas faixas para cada uso, pedonal (de cor bege) e ciclável/rolante (verde), tornando-se um percurso mais seguro, confortável e inclusivo, pois é acessível a todos.
Partilho a minha atividade de caminhada no Strava, para teres conhecimento de alguns dados, como a distância, o tempo percorrido, ganho de elevação, etc.
Percurso Polis, com recurso à app Strava. outubro de 2021.
Percurso Polis | Une as pessoas. Fonte: Município de Leiria [youtube]
"O Percurso Polis é mais do que um caminho de 2 cores. O Percurso Polis une gerações e pessoas e traz-nos um privilégio único: Viver Leiria."
(Município de Leiria)
De São Romão ao Parque Prof. José Hermano Saraiva. agosto de 2021.
Os equipamentos e áreas de recreio e lazer
Só neste troço poderás encontrar um parque canino, um skatepark, um parque radical, uma colónia felina, um parque infantil, circuitos de manutenção física, as instalações do Clube da Escola de Ténis, o Moinho de Papel e o Centro de Interpretação Ambiental de Leiria, para referir apenas alguns.
Os equipamentos | Parque canino, skatepark e colónia felina. agosto de 2021.
No Parque Infantil dos Caniços vi pela primeira vez uma área destinada a pessoas de mobilidade reduzida, com um baloiço de uso exclusivo de deficientes motores.
Uma simples solução que torna este parque infantil inclusivo e acessível a mais utilizadores.
É este o caminho. Excelente!
No Parque dos Caniços e no Jardim de Santo Agostinho, terás o Play City Leiria, um circuito de jogos para todas as idades que desafiam o corpo e a mente.
Lembra-te que "Jogar sabe bem e faz bem."
O percurso está equipado com circuitos de manutenção física e existem locais sinalizados para executar o MOVIDA.polis. Um programa de atividade física pensado para treino físico ao ar livre. Neste troço poderás encontrar as estações de treino do Parque Radical e do Parque Prof. José Hermano Saraiva.
Se és praticante e amante de Geocaching, ao longo do percurso e nas proximidades encontrarás algumas geocaches escondidas.
Na foto está a placa alusiva à GC6EEM6, relativa ao Cache In Trash Out (CITO) 2016, evento promovido pela Geocaching Leiria.
Para além do referido, segundo apurei, brevemente terás a oportunidade de conhecer os BioSpots do Lis. Ao longo das margens do rio Lis haverá várias estações da biodiversidade, em especial, no troço de São Romão ao Parque Prof. José Hermano Saraiva.
"As Estações da Biodiversidade são percursos pedestres curtos (máximo de 3 km), sinalizados no terreno através de 9 painéis informativos sobre as riquezas biológicas a observar pelos visitantes. Cada estação está localizada num local de elevada riqueza específica e paisagística, representativa dos habitats característicos da área." (in tagis.pt)
As áreas de repouso
Logo no início do percurso achei super interessante os passadiços em madeira que entram pela natureza adentro. Como estivessem por acabar, mas são ótimos spots para repousar, para apurar todos os nossos sentidos, para leitura, para conversar e/ou até namorar.
Destaco, também, a colocação de bancos voltados para o rio, pois o objetivo será de desfrutar do contacto com a natureza e observar o belo filme de animação que é o Rio Lis.
A simplicidade das suas áreas de repouso. outubro de 2021.
As pontes
No percurso encontrarás várias pontes que atravessam o Rio Lis. Para além da sua importância funcional na mobilidade e acessibilidade ao percurso Polis, todas elas são distintas e algumas desempenham a dupla valência de repouso e lazer.
Têm um traço único que confere uma identidade própria
a cada uma delas.
Nas seguintes fotos poderás visualizar a Ponte de São Romão, Ponte Sofá, Ponte Piquenique, Ponte dos Caniços, Ponte Balcão, Ponte Bar e, por último, a ponte El Rei D. Dinis. A negrito estão as pontes que só soube do nome, através do contacto com o Centro de Interpretação Ambiental, pois não têm qualquer placa de identificação (a não ser que estejam bem camufladas).
As pontes do Rio Lis. agosto e outubro de 2021.
A arte urbana
Ao longo do percurso, podes apreciar, também, fantásticos murais de arte urbana.
Alguns foram dinamizados no âmbito do programa de arte pública Leiria Paredes com história. Destaco os murais do jovem com mochila, um ratinho e um post-it escrito "Kick Me", nas suas costas, de Bezt; o "Bombeiro" de Robô; "O ninho de Garças" de Bordalo II e "A menina com o gato" do Projeto Matilha.
Arte urbana com assinatura de artistas de renome. agosto de 2021.
Iluminação
O Polis poderá ser percorrido durante a noite, pois em toda sua extensão, está bem sinalizado e iluminado o que confere maior segurança a quem o procure no período noturno.
Percurso Polis à noite. outubro de 2021.
Recomendações de segurança e de circulação
"Contamos consigo para o tornar mais agradável."
(Município de Leiria)
Percurso Polis | Recomendações de segurança e de circulação. Fonte: Município de Leiria [youtube]
Considerações finais / sugestões
1. No sentido de São Romão - Parque Prof. José Hermano Saraiva, as faixas pedonal e ciclável trocam de lado. Planearam e executaram a colocação da faixa pedonal o mais próxima da margem do rio, o que faz todo o sentido. Excelente!
2. Encontrei quatro locais de cruzamento que podem gerar conflitos entre os diferentes modos de mobilidade. E que no meu entender podiam ter outro tipo de desenho e solução. Ainda para mais hoje que vemos tantas soluções de urbanismo tático, confesso que ao ver as convencionais passadeiras em paralelo fiquei com o sentimento de que ali podia ter sido dada melhor atenção.
Se o objetivo é a mobilidade pedonal/ciclável/rolante,
porque colocam passadeiras em paralelo?
Vou tentar descrever por palavras e ilustrar com algumas imagens a minha ideia: estas áreas de cruzamento devem estar elevadas ao nível do passeio, como estão, no entanto, a extensão da área de cruzamento deveria ser mais larga, criando duas zonas de coexistência (partilhadas por peões, ciclistas e veículos e onde estes últimos não têm qualquer prioridade). Nestas zonas as pessoas “podem utilizar toda a largura da via pública”, ou seja, podem atravessar a estrada em qualquer lado (não existem passadeiras), por exemplo. Esta situação facilitava o atravessamento de peões e ciclistas, principalmente em dias e horas de maior utilização do Percurso Polis. Ao mesmo tempo, com desenho urbano adequado, melhoraria a segurança e a relação urbanística Parque de São Romão e Campus do ISLA e Parque dos Caniços - Parque Infantil dos Caniços.
[Clica na seta para ver a segunda figura]
Em São Romão, seria possível unir os limites das duas entradas e no chão aplicaria um desenho suave do traçado no mesmo piso betuminoso e em redor pinturas urbanas de enquadramento e de urbanismo tático, como já se aplicaram em várias cidades, com bons resultados. Além disso, com ligeira alteração ao traçado viário, ou colocação estratégica de mobiliário urbano e/ou com barreiras físicas, seria possível criar zonas de abrandamento e acalmia do trânsito, muito antes do local do conflito. Claro que tudo teria de ser repensado, até devido à rede Mobilis e trânsito de pesados.
[Clica na seta para ver a segunda figura]
No Parque dos Caniços tendo em conta a situação atual, considero que podia ser implementada uma zona de coexistência que permitisse uma melhor ligação entre o Parque dos Caniços e o Parque Infantil dos Caniços. Isso traria melhor segurança a toda a área do cruzamento e daria clara prioridade à mobilidade ciclopedonal. Esta zona de coexistência podia ser estendida até à entrada do Percurso Polis na Rua da Fábrica do Papel, porque nesta área existem outras duas zonas de conflito, uma na Ponte Piquenique e outra na própria entrada do Polis, na Rua da Fábrica de Papel.
Na Ponte Piquenique, apesar da proibição da circulação de bicicletas no sentido Parque Prof. José Hermano Saraiva, para melhorar a circulação e não entrarem em contramão no sentido São Romão, in loco, testemunhei que não está a resultar.
Considero que foi uma solução provisória, permitir a mobilidade ciclável num dos sentidos, pois estamos a falar de uma ponte que tem um uso pedonal e que serve de local de descanso, para as pessoas permanecerem e fazerem o seu piquenique.
Sendo este o local com maior conflito, entre carros, peões e ciclistas, o desenho da ponte escolhido, não foi o melhor. A ponte Piquenique podia ter sido implementada noutro local. Ali pedia-se uma ponte totalmente livre que permitisse a boa circulação de peões e ciclistas.
[Clica na seta para ver a segunda figura]
Solução A | Este conflito podia ser atenuado, se o troço da Rua da Fábrica do Papel (desde a entrada do Polis até ao cruzamento do Parque dos Caniços), fosse incluído, também, na zona de coexistência.
Porquê? Porque o troço ciclopedonal termina repentinamente num passeio em calçada, empurrando a bicicleta para a estrada que tem uso partilhado com o carro. Então, e que tal pensarmos numa extensão da zona de coexistência?
Solução B | Por outro lado, porque não ajustar o traçado do percurso e construir uma nova ponte? Se fosse construída uma nova ponte ciclopedonal, com ligação ao Parque Infantil (conforme figura da situação proposta), resolveria, em grande parte, o conflito entre os diferentes modos de mobilidade na Rua Fábrica do Papel e na Ponte Piquenique (já não seria necessário o uso partilhado). Uma solução ou outra seriam bastante válidas, sendo que esta última seria a mais interessante do ponto vista da mobilidade e segurança dos utilizadores do Percurso Polis e fluidez do trânsito automóvel na Rua Fábrica do Papel.
Nota | As imagens com os olhares do gato e da menina, do mural do projeto Matilha, são meramente ilustrativas, com a clara mensagem que devemos redobrar a nossa atenção nestes locais de cruzamento entre os diferentes modos de mobilidade. Ao mesmo tempo, escondem a situação atual e propõem a reflexão sobre novas ideias de urbanismo tático para melhorar a mobilidade de todos.
Sugestão | Desafiem a organização do Leiria Paredes com História, para que na próxima edição criem um evento especial "Chão com História". Delimitem estas duas áreas para aplicar urbanismo tático em Leiria.
3. Os suportes para estacionar bicicletas existentes podem não ser os apropriados. Considero que gosto mais da solução do tipo sheffield. Partilho o guia de design e instalação para estacionamento de bicicletas, proposto pela FPCUB (Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta). No guia poderás ler todas as especificações técnicas deste tipo de suporte. Seria de todo interessante promover um concurso para jovens criadores para desenhar mobiliário urbano para este efeito, cumprindo os requisitos necessários e à imagem do Percurso Polis.
4. Apesar deste troço ser curto, pensando em toda a sua futura extensão, sugeria a instalação de pelo menos uma estação de lavagem e de manutenção de bicicletas, como estes exemplos, partilhados pela Biciway. Podia ser no campus dos ISLA ou até na estação de serviço CEPSA (próximo ao parque dos Caniços), locais mais seguros e com potenciais utilizadores.
Ao mesmo tempo partilho algo mais arrojado e com outro investimento, a exemplo da estação do Centro BTT de Lagos (neste caso, seria interessante enquadrar o Percurso Polis com uma rede de percursos de BTT do município).
5. Colocação de bebedouros com water refill para pessoas e animais, ao longo do percurso. Partilho um exemplo que foi aplicado em Vilamoura;
6. Sinalética | necessidade de repor alguma sinalética retirada/vandalizada e de renovar alguma sinalética do PlayCity Leiria e do MOVIDA.polis; Colocar placas de identificação das pontes Balcão e Bar, nas suas proximidades; Colocar mupis com o mapa geral, nos principais acessos ao percurso, com a indicação dos principais locais (podia ser na traseira das placas informativas das regras);
7. Próximo ao Campus do Instituto Superior de Leiria (ISLA), promover a colocação de mais caixotes do lixo, com outra tipologia e dimensão, pois o registo diário, poderá se tornar nisto:
8. Por fim, seria de todo interessante criar uma marca, com logótipo e meios de promoção digitais, do percurso polis. A exemplo do que é feito por várias rotas, uma delas recentemente inaugurada, a Rota da Ribeira das Carpalhosas.
Quando cá cheguei, vi um enorme cartaz: "Leiria, cidade de experiências"
Fazer o percurso Polis é, sem dúvida, uma bela experiência de Leiria.
Vem Viver Leiria e embarca nesta experiência!
+ info
"Percorri a Polis, ia sendo atropelada, mas valeu a pena!", de Daniela Carmo
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Rogério Madeira
Geógrafo
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