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Foto do escritorRogério

Querido Oceano…


Foto de Rogério Madeira, 02.09.07.


“Escrevo-te hoje para dizer-te o quanto lamento os erros de toda a geração “não pensante”. Talvez por falta de tempo ou até por puro egoísmo. Eu sei que não posso remediar esses mesmos erros com confortantes palavras e nem mesmo moldá-las nas tuas empobrecidas profundezas. Mas a verdade é que já não consigo ficar calada; e no quentinho do meu sofá assistir às maiores barbaridades. Carrego num simples botão, e em alguns segundos assisto à destruição total. Enormes áreas do teu calejado corpo ficam enegrecidas, milhares de baleias dão à costa todos os anos, outras tantas raras belezas adormecem tragicamente ao sabor da corrente. Isto para não falar das espécies em extinção, que cada vez são mais! É chocante. Depois de uma época balnear, percorrer uma pequena extensão de areal ressequido e ficar obstruída por degradantes “seres” de várias espécies. Começando por enlatados, passando por papéis garridos e acabando nos dolorosos vidros abscônditos; tudo não passa de uma lamentável falta de civismo.


Tens razão, existem imensas pessoas que lutam por ti, utilizando os mais variados meios. Outras que dedicam-se a estudarem os teus ilimitados segredos (muitos para sustentarem as desgraças que outros causaram). Outras que sonham com um tão esperado encontro contigo. E que muitas delas ainda aprenderam amar-te. Mas até quando vou debater-me com imagens catastróficas? Querido oceano, os teus olhos outrora cintilantes, estão agora a tornar-se irremediavelmente de um azul fosco!

O que torna tudo isto irónico, é que tu no meio desta calamidade toda, ainda presenteias o meu amargurado olhar com inimagináveis conchas coloridas. E ao carregar noutro botão, deparo-me com paisagens indescritíveis, que tu gentilmente deixas a descoberto nas profundezas.

Agora senti vontade de rir e não imaginas porquê! Devias ver o quanto é engraçado observar a raça humana (incluindo eu) a babar-se perante a tua deslumbrante finita beleza… desde os recifes de coral até aos cardumes de todas as espécies, tamanhos e cores. Mas o mais engraçado é quando nós, os humanos, recuamos bruscamente do nosso sofá, perante o olhar temido dos tubarões, que casualmente chocam contra as câmaras de filmar.

Sabias que depois de um dia chuvoso, escuto o teu inconfundível som revolto num enorme búzio acastanhado? E assim adormeço com uma esperança no coração… e para o novo alvorecer de amanhã…”


Gaivota 04.Nov.97


Sustenta o sustentável 🍀


Rogério

Geógrafo

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